Estiagem provoca perdas de 15% a 25% nas lavouras de café

A estiagem atípica e as altas temperaturas registradas nas principais áreas produtoras de café de Minas Gerais e demais regiões do país, ao longo do primeiro trimestre, podem acarretar perdas entre 15% e 25% da produção estimada para 2014, que seria próxima de 55 milhões de sacas de 60 quilos no país, sendo Minas Gerais responsável por cerca de 50% do volume. Os efeitos da seca prolongada devem interferir de forma negativa também em 2015. Como a interferência da infestação dos cafezais pela broca-do-café ainda não foi contabilizada, a perda poderá ser ainda maior.


Os dados são do estudo "Seca e Alta Temperatura nos Cafezais Brasileiros: um estudo de caso e sua amplitude nacional", elaborado pelo mestre em Fisiologia Vegetal pela Universidade Nacional de La Plata, Argentina, PhD em Biologia pela Universidade de Illinois, nos Estado Unidos, e professor titular aposentado da UFV (Universidade Federal de Viçosa) Alemar Braga Rena.

De acordo com Rena, na safra atual - que deve começar a ser colhida ainda neste mês -, os cafeicultores registrarão prejuízos na qualidade do grão - reduzindo o valor de venda - e no peso, sendo necessário um maior volume para compor a saca de 60 quilos.

estiagem deste início de ano foi considerada como uma das maiores anomalias climáticas já observadas na produção cafeeira do país. "Neste ano os efeitos advindos da estiagem, pelas altas temperaturas e pela radiação, foram graves e irão refletir na qualidade e produtividade dos cafezais até a próxima safra. Mesmo com a retomada das chuvas, os prejuízos no período produtivo atual não serão recuperados e somente parte dos impactos em 2015 poderá ser reduzida", disse.

Outro fator que irá estimular as perdas é a redução dos investimentos nos cafezais, principalmente em relação à nutrição dos mesmos. A descapitalização dos produtores, devido aos baixos preços pagos pelo grão em 2013, que em muitos casos não cobriam os custos de produção, comprometeu a capacidade de aportes, o que já impactaria na produtividade.

Além disso, ainda serão contabilizados os prejuízos provocados pela broca-do-café, que se alastrou pelos cafezais após o único defensivo com alta eficácia no combate, o Endossulfan, ter sido retirado do mercado em 2013, deixando os cafeicultores sem opções para o controle efetivo.

"Todo este conjunto irá contribuir para a queda na produção brasileira de café. A estimativa inicial, que só contabiliza os prejuízos causados pelo clima, é que a safra fique em torno de 40 milhões de sacas de 60 quilos em todo o país, frente ao volume previsto inicialmente de 55 milhões de sacas. Mas a real perda só será contabilizada em meados de agosto, quando a colheita da safra estiver concluída", disse.

De acordo com Rena, para elaborar o estudo foram observados cafezais de variadas regiões produtoras do grão em Minas Gerais e no país. Os maiores danos estão concentrados no Sul de Minas, maior área produtora. Nesta localidade, a princípio, as perdas poderão superar os 25%. A previsão inicial da Companhia Nacional de Abastecimento era de uma produção próxima de 14 milhões de sacas, o que se alcançado seria um incremento de 2,3% no volume.

Nas demais regiões, como na Zona da Mata e Cerrado, por exemplo, as perdas devem variar entre 15% e 25%, dependendo da altitude e tipo de solo que cada unidade produtora apresenta.

As perdas mais expressivas serão registradas nas áreas de renovação dos cafezais, com idade média abaixo de quatro anos. "Nas lavouras jovens, com 4 anos ou menos, devido ao pequeno sistema radicular, dependendo dos índices pluviométricos e do teor de matéria orgânica do solo, as perdas podem ultrapassar os 50%, em decorrência de as raízes serem pouco desenvolvidas e sofrerem mais rapidamente os danos da estiagem", disse Rena.

Segundo ele, para a safra 2015 os prejuízos deverão ser causados pelo baixo desenvolvimento dos cafezais em 2014, já que o crescimento foi reduzido pelo estresse hídrico e por problemas radiculares.

"Com a estiagem, houve enfraquecimento geral da planta, em especial das raízes. Isso afetará drasticamente a safra futura. A colheita de café em 2015 já está, portanto, muito comprometida. E mais, se as floradas forem boas, em setembro de 2014, e se o pegamento de frutos for razoável, qualquer mudança indesejável do meio ambiente poderá ser interpretada pelo cafeeiro como um grande terremoto, prejudicando ainda mais a colheita de 2015, e mandando sinais de alerta para a de 2016", ressalta.

As informações são do Diário do Comércio

Comentários